Na maioria dos estados, os juízes do Supremo tribunal Estadual são eleitos directamente pelo povo. Tradicionalmente estas eleições eram discretas e pouco notadas, com budgets mínimos e poucos, ou nenhuns anúncios. No entanto, a situação tem mudado radicalmente nos ultimos anos, devido não só à importância crescente dos media, mas sobretudo pela polarização crescente em torno de alguns assuntos que estes juízes resolvem: o casamento gay e o aborto.
Colocados desta maneira no centro das culture wars, os juízes viram as suas eleições cada vez mais escrutinadas pelo público, media e grupos politicos. E assim, temos hoje campanhas profissionais para as eleições de juízes, com orçamentos cada vez maiores, angariação de fundos e grupos exteriores. E anúncios negativos e de ataque, sobretudo em campanhas de "retenção", onde os eleitores são chamados a decidir se determinado juiz do Supremo deve continuar ou ser retirado da sua posição.
Alguns exemplos, começando neste post pelos positivos:
Tom Edwards, para o Supremo Tribunal do Alabama. Notem as referências religiosas:
Nels Swandal para o Supremo Tribunal do Montana. Notem as referências à vida de agricultor, e a defesa de rumores sobre a sua imparcialidade politica:
Mary jane Trapp para o Supremo Tribunal do Ohio. Recomendada por grupos judiciais:
James Anderson é candidato ao cargo de procurador-geral do Alabama. Neste divertido (e astuto) anúncio, pega no tema das estratégias eleitorais, com vários estrategas politicos a aconselharem uma série de ideias "standard" na industria, para no fim resolver ir apenas com o seu curriculo:
A ideia a passar é, obviamente, a de um candidato "honesto" e "genuíno", que não necessita de estratégias mirabolantes para ser eleito. E no entanto, essas mensagens passam quase subliminarmente no início: pai de família, duro contra o crime, filho de um pastor. É muito bem pensado.
Nos EUA é perfeitamente normal para um candidato falar dos seus valores religiosos, e usá-los como parte integrante na sua campanha, como uma prova de bom carácter. No campo dos Republicanos, então, é um ponto de honra, sendo muito difícil hoje em dia que um candidato conservador não seja também religioso. No entanto, em alguns estados do interior, essa questão, mais do que importante, passou a ser central na candidatura.
Pegando ainda na corrida a Governador no Alabama, os dois anúncios abaixo ilustram bem este estado de coisas, e os extremos a que já se chegaram. Bradley Byrne é candidato à nomeação republicana a este cargo. Um dos anúncios iniciais de apresentação é exclusivamente dedicado à questão da sua fé:
Para além da questão religiosa, este anúncio inclui duas referências importantes para o eleitorado conservador ( de referir que Byrne é um ex-democrata, tendo passado para os Republicanos em 97): a frase I'm a creature of the creator, e you get to see, at birth, the miracle of life, and life is a miracle. Esta última expressão estabelece a sua posição na questão do aborto, enquanto a primeira expressão se relaciona com uma das mais incompreensíveis (para nós Europeus) polémicas que decorrem nos EUA: o ensino do creacionismo nas escolas. Muito ridicularizada nos media, esta questão insiste em manter-se na agenda dos republicanos, e é importante para o eleitorado mais retrógado, que quase vê nesta questão um ponto de honra contra a agenda dos liberals. Aliás, o objectivo dos promotores desta ideia (as igrejas evangélicas, sobretudo) é mesmo esse: tornar a teoria da evolução numa questão política e não de ciência.
É precisamente nessa questão religiosa e criacionista que foca o seguinte anúncio de ataque, da autoria de um grupo associado a um seu rival Republicano:
Em algumas zonas dos EUA, a separação entre estado e Igreja é cada vez mais difusa.
Candidato (entretanto derrotado) a Governador no Alabama, o ex-juiz Roy Moore - também conhecido pelo "juiz dos dez mandamentos" - prova que nem só de anúncios de ataque vive uma campanha.
Candidato do Tea-party à nomeação republicana para o congresso pelo Alabama, o ex-marine Rick Barber acaba de ganhar notoriedade com este anúncio, onde aparentemente apela à revolução armada contra Obama, a administração fiscal, o poder central, e tudo o que cheire a government.
Um dos melhores exemplos de todos os fantasmas que animam os activistas do Tea-party. Está cá tudo, inclusivé a devoção quase religiosa ao texto original da constituição.
No Alabama, a corrida à nomeação Republicana para Governador conta com um candidato, Tim James, que atingiu a notoriedade com uma série de anúncios apelando aos valores mais retrógrados do eleitorado. O mais conhecido é este, onde promete acabar com o uso da lingua estrangeira (leia-se Espanhol) no exames de condução:
Ainda sobre a carta de condução - o único documento de identificação válido para a maioria dos Americanos - este apela também aos sentimentos anti-emigrante (leia-se Hispânicos) ao prometer que, se eleito, apenas aqueles com um documento válido poderão votar. A mensagem: as eleições (e os direitos) são para os genuínos americanos.
E claro, falando nos valores tradicionais, a família não podia faltar, desta vez como pretexto para falar das suas credenciais de "duro contra o crime", pegando no exemplo dos predadores sexuais para acusar os outros candidatos de "serem amigos" destes:
Anúncio de Dale Peterson, candidato republicano à Comissão de Agricultura do Alabama. Uma pérola de frontalidade conservadora com todos, mas todos, os ingredientes para se tornar um clássico. Take no prisioners indeed.
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