Nos EUA é perfeitamente normal para um candidato falar dos seus valores religiosos, e usá-los como parte integrante na sua campanha, como uma prova de bom carácter. No campo dos Republicanos, então, é um ponto de honra, sendo muito difícil hoje em dia que um candidato conservador não seja também religioso. No entanto, em alguns estados do interior, essa questão, mais do que importante, passou a ser central na candidatura.
Pegando ainda na corrida a Governador no Alabama, os dois anúncios abaixo ilustram bem este estado de coisas, e os extremos a que já se chegaram. Bradley Byrne é candidato à nomeação republicana a este cargo. Um dos anúncios iniciais de apresentação é exclusivamente dedicado à questão da sua fé:
Para além da questão religiosa, este anúncio inclui duas referências importantes para o eleitorado conservador ( de referir que Byrne é um ex-democrata, tendo passado para os Republicanos em 97): a frase I'm a creature of the creator, e you get to see, at birth, the miracle of life, and life is a miracle. Esta última expressão estabelece a sua posição na questão do aborto, enquanto a primeira expressão se relaciona com uma das mais incompreensíveis (para nós Europeus) polémicas que decorrem nos EUA: o ensino do creacionismo nas escolas. Muito ridicularizada nos media, esta questão insiste em manter-se na agenda dos republicanos, e é importante para o eleitorado mais retrógado, que quase vê nesta questão um ponto de honra contra a agenda dos liberals. Aliás, o objectivo dos promotores desta ideia (as igrejas evangélicas, sobretudo) é mesmo esse: tornar a teoria da evolução numa questão política e não de ciência.
É precisamente nessa questão religiosa e criacionista que foca o seguinte anúncio de ataque, da autoria de um grupo associado a um seu rival Republicano:
Em algumas zonas dos EUA, a separação entre estado e Igreja é cada vez mais difusa.
Candidato (entretanto derrotado) a Governador no Alabama, o ex-juiz Roy Moore - também conhecido pelo "juiz dos dez mandamentos" - prova que nem só de anúncios de ataque vive uma campanha.
No Arizona, o senador John McCain enfrenta um sério desafio nas primárias republicanas. O seu oponente, o antigo congressista e milionário J.D. Hayworth, procura ultrapassá-lo pela direita, tendo já o apoio dos activistas do Tea Party, que procuram abater todos os republicanos que vêm como "pouco conservadores". McCain, um dos mais antigos senadores republicanos, não é excepção.
A principal questão anda à volta da imigração ilegal, um assunto muito sensível no estado que passou recentemente uma muito contestada lei de deportação de imigrantes. É por aí que Hayworth pega, procurando pintar o seu oponente como "moderado" neste assunto, enquanto ele será um "duro", apoiado até pelo controverso Sheriff Joe Arpaio.
Do seu lado, McCain defende-se com três tipos de anúncio. Em primeiro, procurando também capitalizar o sentimento anti-imigração, anúncios em que defende medidas mais duras nesta frente, incluíndo o muro a ser construído na fronteira. Para não ficar atrás, inclui também um Sheriff:
Por outro, atacando o seu oponente como um Washington insider hipócrita, esbanjador consumado do dinheiro dos contribuintes:
e finalmente, com os anúncios positivos, onde puxa dos galões da sua carreira e do que trouxe à economia do Arizona. Tudo sob o tema dos militares - como um verdadeiro conservador - e também jogando um pouco com o medo do que acontecerá se perder. Vital for Arizona, é a mensagem:
Quando uma candidatura está a correr mal, como acontece com Jane Norton, candidata à nomeação Republicana para o Senado pelo Colorado, há sempre a hipótese de um Hail Mary pass: uma jogada arriscada e louca que, se resultar, pode relançar a campanha. Se falhar, enterra-a de vez.
É o que acontece com este anúncio, onde a candidata pega no estafado tema da war on terror com a nada subtil inclusão do som de um motor de avião, tentando usar o medo para convencer os eleitores. O resultado é de um gosto bastante duvidoso, mesmo para os padrões habituais das campanhas.
E se dúvidas houvessem sobre a nova orientação da sua campanha, nada como o novo site para as dissipar.
Anúncio do Democratic National Committee, pegando nas controversas declarações do Republicano Joe Barton, que pediu "desculpas" à BP por ter sido "obrigada" a constituir um undo de 20 Biliões de Dólares para ajudar as pessoas aectadas pelo derrame do golfo. Estes anúncios são em geral produzidos muito rapidamente após alguma declaração mais infeliz de algum adversário, procurando não só capitalizar a polémica criada, mas também prolongá-la, mantendo um assunto mais prejudicial ao adversário mais tempo nas notícias.
Todos os novos candidatos começam a campanha dando-se a conhecer aos eleitores através de anúncios de apresentação, normalmente biográficos, que mostram onde nasceram, cresceram, os valores que têm, a família, etc. São uma parte importante do appeal pessoal, e tentam criar empatia com os eleitores - mostrar que é um homem comum, um tipo decente, honesto, trabalhador, e que levará essas qualidades para o lugar a que concorre. No caso de Alexis Giannoulias, candidato democrata ao senado pelo Illinois, este anúncio vai um pouco mais longe, ao ser narrado pela sua mãe. É impossível não esboçar um sorriso com as palavras I know I'm his mother, but he'd be a Senator that the state would be proud of. Obrigado, mamã.
Agora que Harry Reid, o senador democrata do Nevada, já conhece a sua oponente republicana, começou já a fase de ataque a Sharron Angle. O primeiro anúncio pega no tema da Segurança Social, sempre um ponto de angústia para a população mais sénior, mas passa também, como Sue Lowden já tinha feito, pelas ligações à Cientologia e o famoso plano para dar massagens aos prisioneiros. Aliás, as imagens são do anúncio já aqui divulgado.
Candidato do Tea-party à nomeação republicana para o congresso pelo Alabama, o ex-marine Rick Barber acaba de ganhar notoriedade com este anúncio, onde aparentemente apela à revolução armada contra Obama, a administração fiscal, o poder central, e tudo o que cheire a government.
Um dos melhores exemplos de todos os fantasmas que animam os activistas do Tea-party. Está cá tudo, inclusivé a devoção quase religiosa ao texto original da constituição.
Bob Inglis, o congressista incumbente da Carolina do Sul, vai um pouco mais longe no tema da família, e coloca as próprias filhas a fazerem um anúncio de campanha. Em ano de fúria contra Washington, tudo serve para demonstrar que não se é um "daqueles" políticos, mas sim um outsider.
Esta campanha é, usando uma expressão americana, the gift that keeps on giving.
Aquecimento global? Qual aquecimento global? Isso é obviamente para meninos...
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